Durante algumas semanas antes e
após o parto da Ceci precisei da ajuda de alguém para dar conta do João. Afinal,
com um barrigão de nove meses, marido trabalhando o dia inteiro e filho mais
velho (com um ano e um mês) correndo pra lá e pra cá, teria que arranjar algum
jeito para me preparar e descansar para o parto (domiciliar) e pós-parto.
Optei por contratar uma babá a
matricular João em período integral na escola. Nessas semanas, duas mulheres
passaram pela nossa casa em momentos diferentes para realizar a função de
babá, que, para mim, envolve questões bastante complexas.
Confesso que já tinha um pé atrás
com ‘babás’. Primeiramente pelo fato de sempre ouvir minha mãe falar que nunca
teve babá, que sempre cuidou de mim e da minha irmã sozinha, com ajuda de
papai. Relatos de amigas contando dos maus tratos com seus bebês também
contribuíram com as preocupações. Além disso, minha própria observação diária
das atitudes e conversas de babás da vizinhança, e ainda das próprias babás que
contratamos, fizeram que eu desenvolvesse uma percepção mais negativa que
positiva de tal função.
Cansei de ver babás que não dão a
atenção devida a criança por estarem ou penduradas no celular, ou conversando
com as outras sobre assuntos particulares de suas vidas, ou mesmo paquerando o
porteiro. Também não vejo nelas a empolgação necessária para lidar com
crianças, disponibilidade para sentar na areia do parquinho e fazer
castelinhos, nem de se envolverem com brincadeiras.
Para mim as
babás deveriam se divertir com o que fazem, procurar propor brincadeiras e agregar
outras crianças nas atividades, observar e agir com criatividade no momento
adequado, enfim, gostar realmente de crianças. Até hoje só observei uma babá
que brincava e dava atenção as duas crianças que cuidava, mesmo sem a presença dos
pais (o que muitas vezes faz com que a babá haja diferente). Antes de conversar
com ela, achava que era a mãe deles, pois ao contrário das demais babás, e
assim como eu, tinha as qualidades citadas. Mesmo assim, com o passar do tempo
vi que a atitude cheia de energia dessa babá foi caindo... Agora, já fica boa
parte do tempo na ‘rodinha’ com outras babás.
Sim, encontrar
uma babá razoável não é uma tarefa fácil, demora tempo até achar alguém. Eu já
não tinha mais tempo... Ia parir.
A primeira babá
que contratamos teve, de forma impressionante, muitos problemas de saúde
(infecção nos dentes, na garganta, gripe, gripe, gripe), quando não era isso
era o ônibus que quebrava, o marido que não deixava trabalhar, ou outro
problema pessoal. Não dava mais. Não trabalhou nem um mês conosco. Quando a
demitimos tivemos que pagar tudo: décimo terceiro, férias, aviso prévio (pois
esquecemos de fazer o contrato de experiência). Uma fortuna...
Partimos para a experiência
com uma nova babá. Dessa vez pagamos mais, bem mais, a fim de encontrar alguém
mais bem preparado (sem esquecer do contrato de experiência). Tanto com a
primeira quanto a segunda babá, vi que havia uma dificuldade ainda maior nessa
relação babá-patroa pois eu não estava trabalhando nem iria trabalhar, iria
estar por perto sempre. Eu queria passear junto, ver o banho... Mesmo com o
barrigão. Precisava de alguém para me ajudar principalmente com o trabalho
pesado: carregar João, colocá-lo nos brinquedos, trocar fralda, mas não para
tirá-lo da minha presença. Acredito que as babás se incomodavam com isso.
A segunda babá
que contratamos chegou até a dar explicitamente ordens contrárias a minha a
João. Um exemplo disso foi quando Ceci já estava a alguns dias no mundo. Falei
para João, que empurrava de mansinho a porta do quarto: “Vem cá ver sua
irmãzinha”. Ele estava indo nos dar um beijo quando a babá apareceu na porta do
quarto: “Vem cá João ver o livro”. Falei novamente para João entrar e ver a
irmãzinha e a babá falou: “Tchau João, vou embora”. Então ele ficou hesitante
em entrar no quarto, olhou pra trás e começou a chorar.
Esse é um
exemplo dos muitos joguinhos afetivos que adultos fazem com crianças, e no caso,
a nossa babá era especialista nisso. Quando a avisamos que tínhamos uma
diarista, pronto, queria passar para essa ou mesmo para mim todo o serviço
doméstico relativo as crianças, até lavar o copinho de água e tirar as cascas
de banana da bolsa de sair do João que ela mesmo jogava. Eu chamei atenção
sobre tais coisas, mas nada adiantou, e o clima só piorava.
Agora contratamos alguém para
cuidar da casa de segunda a sábado. João está indo a escola em período integral
duas vezes por semana. Nos outros dias eu fico com as crianças e quando preciso
peço ajuda. Estou mais cansada fisicamente, porém mais tranquila mentalmente e
mais feliz com relação a isso.
Acho que existe algo esquisito
com a palavra ‘babá. Parece que é só falar a palavra que surge num imaginário
comum (tendo em vista as pessoas que entrevistamos e contratamos) aquela figura
da mulher que fica sentada com as crianças na frente da TV, que não tem a
iniciativa de realizar nenhum tipo de trabalho doméstico passando a função para
outros (no caso para mim ou para a diarista), ou o fazendo de mau grado e mal
feito. Lembro que nas ligações e entrevistas que fiz, algumas mulheres
falavam: "É, eu olho criança sim". É, parece que é só olhar mesmo.
Não é abaixar, se levantar, andar, correr, limpar...
Me pergunto o que seria essa
função de babá? Cuidar de crianças... E o que é cuidar de crianças na
perspectiva de babás e de mães? Fico um tanto que perplexa quando ouço babás
falando que as crianças que cuidam preferem elas que as próprias mães. Comentam
que quando aparecem na casa dos patrões, as crianças vão direto para seus colos
e não querem ficar com os pais. Dizem que as mães ficam tristes, mas concordam com
essa situação por julgarem ser o ‘melhor’ para seus filhos.
Apesar das experiências não muito
felizes que tivemos, reconheço que o auxílio de uma ‘babá’ foi necessário por
um período, mas por um período bem curto, não mais que um mês. Depois disso me
atrapalhou muito mais que ajudou. Entendo que o cotidiano e estilo de vida de
muitas mães sejam diferentes do meu e por isso, precisem de babá por mais
tempo. Mas não é meu caso. Estou muito grata em poder estar com meus dois
pequenos. Ver os ‘primeiros tudo’ deles: sorrisos, palavras, passos...
Perdão pelo desabafo, mas nem a Mary
Poppins serviria para cuidar dos meus filhos. Eu sou a mãe, eu sou a babá, eu
sou a Mary Poppins dos meus pequenos. Pode ser que eu seja exigente por demais,
e que também minha experiência como professora (de dança e música para
diferentes faixas etárias) contribua para minha decepção com atitudes pouco
criativas e sedentária da maioria da babás. Além disso tenho super interesse em
observar o desenvolvimento dos seres humanos, em especial dos meus filhos,
adoro brincar, criar, fazer música, dançar, desenhar, comer, nadar, rir com
eles.
Não nego que é bem trabalhoso estar
com os dois. Ainda mais agora, com uma recém-nascida que mama o tempo todo e
outro que anda, corre, sobe em tudo... e mama. Cuidar desses dois acho até mais difícil
que cuidar de gêmeos justamente por estarem em momentos tão diferentes do
desenvolvimento (meus filhos tem um ano e dois meses de diferença). Descer para
passear com os dois exige planejamento, plano A, plano B, plano C. Outro dia
sentei no parquinho e dei mamá para os dois que berravam, em alguns instantes
tudo se acalmou... Só parecia ser um E.T. com o olhar de estranhamento que
babás e casais me dirigiam.
Muito bom Valéria.. Estou numa situação muito parecida e chegando a conclusão que o melhor é a escola e uma doméstica pra me ajudarem com o pequenino e a bebê que chega jájá!
ResponderExcluiradorei a iniciativa! de escrever suas experiencias!! bjao
ResponderExcluirObrigada Bárbara e Mari,
ResponderExcluirPois é, muita gente tá colocando integral.
O João tá amando a escolinha.
ela é simples e tem uma enorme área verde.
Valéria realmente não é nada fácil cuidar de dois em momentos diferentes no crescimento, haja energia!!!!!
ResponderExcluirEstou adorando seus relatos, voce tem o dom da palavra!!!
Beijo grande e força aí!!!!
Jud Martins
Já passei por isso e sei bem como é... Tenho quatro filhos muito próximos um do outro (média de dois anos). Mas eu tinha uma babá que eu posso dizer ser a mãe preta dos meus filhos. Quando acertamos, e Deus nos envia anjos como a Lindete, é muito bom!
ResponderExcluirClara Moreno: Adorei Valeria! Imagino que voce precisa se desdobrar a cada dia com os dois pequenos que estao em momentos diferentes da vida. No seu relato vi e concordo muito com a sua concepção de infância e da importancia que o adulto tem na formação dessa criança. Não sei, acho que podemos chamar de Alteridade. Mas, para ter essa percepção é preciso que se estude muito, ou ter nascido em uma familia com esses cuidados. O povo, que é quem se propoe a ser babá nao tem essas concepções e tratam de nossas crianças como se fossem seus filhos. E o que tem de mais legal do que ver Tv? Ainda mais à cabo. .
ResponderExcluirPosso te dizer que na escola que trabalho, as crianças mais interessadas, mais articuladas, com sede de vida, de amor e as mais carinhosas são as que ficam mais tempo com seus pais (mae e pai, nao somente um lado pq se nao geram outras questoes..rs). Acredito que voce fez a melhor escolha, enquanto der, mergulhe nesses pequenos!! <3
Nossos estamentos sociais são muito heterogêneos, o que dificulta empatia nessa relação babá-mamãe. Muitas vezes a inveja fala mais alto que o profissionalismo, o que gera distorções nas atitudes de babás que ainda não venceram seus próprios recalques. É preciso cautela e paciência em demasia para as mamães, de modo que os tesouros mais valiosos não fiquem à mercê do acaso e da sorte.
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