Crianças, Cuidado!

Crianças, Cuidado!
Amor de mãe, amor de irmãos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PRECISAMOS FALAR SOBRE ABORTO

PRECISAMOS FALAR SOBRE ABORTO

Eu nunca fiz aborto.  Mas não quero aqui subir no pedestal de quem está isento desse ato e julgar as pessoas que o fizeram. Não me cabe julgar. Todos nós, somos capazes de realizar coisas impensáveis se passamos por uma situação difícil. As pessoas que passam por essa situação precisam de compreensão e muita ajuda.

O abuso de mulheres, o preconceito, as piadas sem graça, o descaso, as injustiças... Vivemos num mundo cheio disso. Cheio de coisa errada. Por isso que quando falamos de aborto estamos falando claro, de homens e mulheres que cometem abortos. Quantos homens e mulheres você conhece que fizeram aborto? Familiares e colegas ou mesmo você, seja homem ou mulher. E como é isso? E por quê?

Dos casos que conheci apenas uma moça falava com toda convicção que realizava pelo menos um aborto por ano e que isso não a deixava mal, pelo contrário, a deixava mais empoderada do seu próprio corpo. Ela comentava isso em resposta a outra moça que tinha acabado de acompanhar a amiga num aborto e que se sentia um tanto nervosa (nesse caso a moça que tinha realizado o aborto era uma jovem filha de pastor, que, pelo que entendi, não queria de fato abortar, mas o fez por muito medo do que seus pais iriam pensar da sua gravidez na adolescência). Ouvir isso me deixou mal. Ouvi isso calada, numa rodinha de aula de ballet. Como disse, o depoimento da primeira moça foi o único que ouvi a pessoa falar sem constrangimento e convicção de que isso era o melhor. Os outros todos foram em meio a lágrimas e não como uma opção entre abortar ou não, mas se sentiam coagidas a fazê-lo.

Não vou fazer uma lista dos casos de aborto que conheço. Não pretendo expor a vida dos outros. Apenas coloco que no pós-aborto, conheci casos comoventes de arrependimento e reconciliação. Cada um com sua história, com seu caminho, seu momento para isso.

Mas o que me deixa bastante preocupada e que não consigo parar de pensar e julgar (que Deus me ajude), é na indústria do aborto. Todo dinheiro envolvido com a questão do aborto, clínicas, medicamentos, etc. Aprendi um pouco mais sobre esse assunto no filme Blood Money – Aborto Legalizado (você pode assistir dublado e completo em: https://www.youtube.com/watch?v=6i5m6j6ffrM). Infelizmente existem diversos profissionais espalhados pelo mundo vendendo um produto que não é bom. Propaganda enganosa, clínicas aparentemente bonitas, pessoas aparentemente bem resolvidas. Mas a incoerência e infelicidade pairam no ar.

Não posso deixar de comentar sobre a relação entre idade gestacional e aborto. Me parece medíocre ficar discutindo com quantas semanas se pode ou não fazer aborto. Fiz uma pesquisa no google e observei que existem discussões médicas sobre sofrimento fetal (o que justificaria o uso de anestesia para diminuir o sofrimento do feto). Varia no mundo a situação jurídica sobre aborto e também o limite de semanas aceitas para realizar aborto. Existem estudos científicos que apontam para a existência de sofrimento fetal a partir das sete semanas, outros com dez semanas, outros para a partir do segundo trimestre de gestação e outros que apontam só para após nascimento. Mas então pergunto: e as crianças que nascem com uma síndrome e que não sentem dor? Por isso podemos bater nelas? Matá-las?

Outro motivo por achar essa discussão problemática é que a idade gestacional raramente é calculada com exatidão (se é que possa ser alguma vez calculada com tanta precisão). O ultrassom é uma estimativa, que pode ter uma margem de erro de quase uma semana (sei disso por experiência própria, ao ler meus ultrassons de diferentes clínicas). E quem é que irá fiscalizar exatamente se passou um dia, dois, três? Teoricamente, um dia faria diferença, visto que estamos falando de semanas.  Convenhamos, não é do interesse da clínica não realizar o aborto.

E se formos mais a fundo, percebemos que o interesse é realizar o aborto em qualquer idade gestacional, inclusive pós-parto. Sim, o aborto pós-parto tem sido discutido por aí:
https://www.ufrgs.br/bioetica/abortopos.htm, sobre o artigo original que tem dado o que falar: http://jme.bmj.com/content/early/2012/03/01/medethics-2011-100411.full. Lendo tais deias, me faz pensar que, nesse mundo, existe uma aversão patológica ao bebê.

Outros pontos que levanto com relação ao aborto e seu incentivo:

- Não considero adequado relacionar parto com aborto. São opostos. Em certas pesquisas são colocados dados como: é mais seguro abortar no primeiro trimestre que passar pelo parto. Nesse sentido me chocou o depoimento de Emmily Letts, que trabalha em uma clínica de aborto, fez um filme de seu próprio aborto, ganhou prêmios com isso e diz que percebeu o momento como se fosse um parto - em que estava cantarolando e tranquila. No texto ela fala ainda da existência de três tipos de doulas: especializadas em nascimento, em adoção e aborto (http://blogueirasfeministas.com/2014/05/porque-filmei-meu-aborto/). Diante desses fatos penso que é possível mostrar um aborto sendo realizado “tranquilamente” filmando apenas o rosto da mulher (como o filme citado foi feito). Mas é impossível mostrar o outro lado dessa mesa forma. O lado do bebê. É chocante ver os filmes de aborto, mas diante a banalização do mesmo vejo como algo necessário.

- A veracidade dos dados que aparecem sobre aborto como índice de mortalidade materna, etc. Pesquisas e dados contidos no próprio Ministério da Saúde (data sus) demonstram que não são bem como estão sendo noticiados, e até mesmo o contrário do que se diz. Por exemplo os índices de aborto não diminuem quando o aborto é legalizado, mas pelo contrário aumentam ao longo dos anos (veja depoimento da especialista em saúde pública, Isabela Mantovani: https://www.youtube.com/watch?v=UVG6gFN3Sdc&t=420s).

Em termos de políticas públicas, sabe-se que um atendimento a longo prazo a essas pessoas que precisam de muita ajuda é menos vantajoso. Isto é, encorajar a mulher e o homem a terem o filho, oferecendo apoio psicológico, social, médico durante toda a gestação e pós-parto (e claro, educação e saúde para o indivíduo durante sua vida) é menos prático que realizar um aborto em alguns minutos.
Não sou de cobrar do estado assistencialismo desmedido, mas não compreendo como no mundo de hoje, em que tanto se fala e se reivindica do estado os direitos de todos, todas, raças, orientação sexual, direito dos animais, trabalhadores, empregados, desempregados, portadores de necessidades especiais, por que ser diferente com o direito do ser humano no seu início da vida? E olha que os portadores de necessidades especiais são os mais prejudicados e vítimas de preconceito quando se trata de aborto eletivo (leiam os motivos de aborto e suas justificativas no artigo que coloquei acima sobre aborto pós-parto).
Não podemos julgar que é melhor para o bebê não nascer do que ser pobre, ou não nascer que nascer deficiente, ou não nascer que nascer numa família violenta. Acredito que todos que estão lendo isso já presenciaram fatos na própria vida ou na vida de conhecidos coisas impressionantes. Podemos ver casos em que numa família linda, rica, o filho mata os pais; em contrapartida crianças pobres que sofreram abusos superarem tudo isso, sendo exemplos na sociedade e que auxiliam os outros.

Compreendo a razão pela vida do feto ser um fato diferente. Ele está dentro de outra pessoa. A mulher carregando dentro de si outro ser humano. É realmente um mistério que pode ser visto como Graça de Deus ou fardo a carregar. De fato, nenhuma gestação, planejada ou não é absolutamente tranquila para a mulher. Existe a transformação do corpo, os desconfortos, a espera, o parto, o pós-parto. Podemos pensar: é injusto a mulher passar por isso e o homem não.
Quem já não pensou assim, por minutos que sejam. Mas e agora?
Nós mulheres precisamos de uma rede de apoio. E essa rede de apoio, perdão, não pode vir de quem rebela contra seu próprio corpo, mas sim de quem o aceita.

A questão da culpa. Fala-se mal de sentir culpa. O importante é seguir em frente e não se arrepender dos atos. O tanto de pessoas frias e inconsequentes que existem devido a esse pensamento é grande. Que diante dos erros, colocam uma pedra no assunto e continuam a se atropelar e atropelar outros por aí. Não acho que devemos nos culpar de forma patológica por um erro. Chorar pelo leite derramado. Mas sim reconhecer o erro. Saber pedir perdão. Buscar reconciliação. E buscar não errar novamente. Mas pelo contrário, aprender com o erro. Tentar se transformar. E produzir bons frutos e ter virtudes. Tendo em vista que a Misericórdia de Deus é infinitamente maior que o pecado mais grave que alguém possa cometer - mas que isso não signifique que nossos erros não existam.

Concluo dizendo que não é certo consertar um erro com outro erro.
Justificar um erro com outro. Apagar.
Podemos fazê-lo. Mas a consciência, lá no fundo, não nos deixa tranquilos.
Não conseguimos fazer o bem, nem ao menos amenizar erros com outros erros.
É como se fosse uma vingança.
Quero dizer com isso que, não é certo que mulheres sejam estupradas, sejam sobrecarregadas com os cuidados da gestação sem apoio do parceiro, carreguem em seus ventres bebês e que os pais desses sumam. Mas diante de todos esses erros humanos o que fazer? Mais erros?

Devemos lembrar que a justiça dos homens é diferente da justiça de Deus. Que Deus tenha misericórdia de todos nós.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

O PÉ DE IPÊ AMARELO

O Pé de Ipê Amarelo

O pé de ipê amarelo nascido no cerrado sertão 
é um pé de ipê já bem velho enfeitando as matas e as mãos

Enfeitando as matas e as mãos
Esse ipê colorido e florido
Colorido da cor da nação
Esse pé nascido no cerrado

Esse pé nascido no cerrado
Colorido da cor da nação
Esse ipê colorido e florido
enfeitando as matas e as mãos

Também tem o ipezinho roxo que mora que mora na capital
Que mora que mora na capital tem pé de ipê branco lá na catedral
Com pé de ipê branco lá na catedral parece que neva na capital
Se parece que neva na capital ipezinho roxo diz que na leva a mal



https://www.youtube.com/watch?v=o_-HDkP5RHE

segunda-feira, 18 de julho de 2016

O BEBÊ QUE MAMA

O Bebê que Mama



O bebê que mama
Chama para oração
A mãe que estava pra lá e pra cá em seus afazeres diários não tem saída
Senta pra dar mamá
Senta pra respirar
e, se não tem cadeira, arranja um jeito, senta no chão mesmo, na terra, na grama...

E o mundo continua 
Veloz
girando em torno dela e de seu bebê
Mas a mãe e seu bebê conseguem desacelerar o tempo
Eles se movimentam em outra dimensão

O bebê que mama no seio da mãe
É como um anjo que a protege e a vê
Igualmente a mãe que amamenta seu filho
É como um anjo que o protege e o vê

E como não bastasse o tanto de energia e amor naquele ato
Não é só isso, ou tudo isso
Não é só um saciar de afeto e alimento
Ao sentar para amamentar seu filho
A mãe para
E como é difícil parar nos dias de hoje

Sim, desacelera o tempo e pode dar “pause”, ou “stop”, até mesmo voltar no tempo
Seus pensamentos acalmam
E contempla

O bebê que está com fome no meio da noite
Chama para oração
A mãe, como um monge ou fiel a rezar as orações da madrugada
Todo o santo dia e toda santa noite
Sai do seu aconchego para gerar aconchego
E não só o bebê ganha com isso, mas em especial a mãe que recebe aconchego de Deus

Quão grande é o Amor de Deus
Não é mais um peso, mas um momento sublime e feliz
É vida, é oração
Pois, como diz o ditado, não há céu sem sacrifício

Feliz da mãe que amamenta seu filho e que a todo momento é chamada a oração


Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5, 3-5)

sexta-feira, 8 de julho de 2016

RELATO DE PARTO NATURAL DOMICILIAR PLANEJADO: CECÍLIA, MINHA PRINCESA, BABY #2

Parto da Cecília

Eu estava numa fila na noite do dia 6 de abril de 2013 sentido contrações tipo “leves”. Era a fila de autógrafos do lançamento de um livro de dança de uma amiga e coreógrafa. Nesse dia, fui prestigiá-la e também receber o meu próprio livro - eu havia feito a trilha sonora do espetáculo carro chefe do livro.  Meu marido foi comigo. João, nosso filho mais velho (um bebê de 1 ano e 2 meses) ficou em casa com minha mãe. Eu não podia mais dirigir. Seria imprudente pois a nossa bebê poderia nascer a qualquer momento. Já estávamos com 40 semanas e 2 dias.

A data (im)provável do parto já tinha passado e ficávamos nos perguntando e apostando: quando será que nossa menina virá? Deve vir antes do irmão (João nasceu com 41 semanas e 5 dias). Pensava que dessa vez eu estaria mais pronta para a chegada de um bebê... segundo filho.... Mas existiam outros medos e ansiedades: “e como será a relação dos irmãos? ”; “e meu primeiro bebê será por mim abandonado? ”. Realmente, João era apenas um bebê que mamava, e muito (sobre amamentação durante a gravidez e amamentação tandem, capítulo à parte).

A fila de autógrafos era grande e eu estava mais ou menos do meio pro final da fila, dessa vez eu cogitei utilizar meus direitos de gestante, e ir para frente da fila. Mas, mesmo com as contrações não o fiz (talvez receio de incomodar ou ser julgada pelo pessoal da fila). Fiquei na fila um bom tempo sentindo as contrações. Me sentia bem fisicamente, estava amparada pelo meu marido e, se as coisas fossem evoluindo mais rapidamente, iríamos para a casa.
Durante a fila encontrava um ou outro conhecido e aquela pergunta: “Quando nasce? ”. E eu respondia: “Está vindo agora”. Eu estava relativamente tranquila. As pessoas, dê certo, achavam que eu estava brincando. Sei que consegui chegar até o destino, receber o livro autografado e ir direto para casa. 
No carro, as contrações foram aumentando. Eu estava feliz, um pouco apreensiva, meu marido mais aflito. Vai nascer no carro? Ele alertou que era uma atitude irresponsável da minha parte comparecer no evento. As parteiras também mencionavam nos encontros anteriores que o melhor, nessa altura do campeonato, era ficar mais “de boa” em casa, não sair para lugares distantes. Eu sabia disso, mas ao mesmo tempo pensava que era um evento que eu gostaria de ir, pois, após o nascimento da bebê, a vida social seria comprometida.

Não que eu ache esse recolhimento ruim, pelo contrário, gosto e necessito de privacidade, tempo, compreensão e respeito no parto e pós-parto. Mas que eu buscava deixar ao máximo “tudo na vida resolvido” (se é que isso existe), incluindo essas saídas antes da bebê nascer. Afinal eu já tinha um filho e sabia o que era o puerpério. E que agora, vivenciaria o puerpério nível 2 - me preparava psicologicamente para ter dois bebês em casa: um que acabara de aprender a andar e outro recém-nascido.

Durante o trajeto para casa ficávamos nos perguntando se seria alarme falso (uns dias atrás eu tinha sentido o mesmo), ou se seria realmente o trabalho de parto. Tinha ainda o fato de ser segundo filho, que muitos diziam que nascia escorregando. Chegamos na garagem, e, não consegui sair do carro. Daniel ficou mais aflito ainda, já se preparando para me carregar. E eu dizia para não me encostar, me deixar lá mesmo. Queria tempo. Tempo para respirar. Era uma contração duradoura, não muito dolorida, mas imobilizadora.
Acho que fiquei lá na garagem uns 15 minutos até me recompor. Eu sabia que não iria nascer no carro. Era apenas um momento. Um momento respirado. Meu marido desceu para a garagem para me auxiliar a subir para casa (eu já havia falado a ele para subir, fazer suas necessidades, qualquer coisa eu ligava). Chegando em casa, nada. Quer dizer, as contrações foram dando um tempo e logo eu estaria pronta para sair novamente. Brincadeiras a parte, dormi esse dia sem ter contrações e passei o dia seguinte do mesmo jeito. Esse vai não vai me deixava confusa. Mas uma coisa era certa, mais cedo ou mais tarde eu teria minha bebê nos meus braços. E eu precisava descansar para o parto e pós-parto.
As 22h do dia 7 de abril as contrações começaram a ritmar. Já estávamos na cama, eu e marido, prontos para dormir. João dormia no quarto dele. Primeiramente não alertei meu marido, fiquei contando, sozinha, as contrações, deitada mesmo. E percebi que eram regulares, tinham a duração e frequência que a parteira mencionou. Então, cutuquei meu marido que dormia: “Daniel, agora vai”. Ele começou a marcar as contrações no aplicativo do celular. Ligamos para as parteiras e para a doula. Ligamos para a fotógrafa (decidimos registrar esse parto com fotos e filme de uma profissional especializada em fotografia de parto). Ligamos para minha mãe. Sua missão seria cuidar do João. O nosso bebezão já dormia, mas se acordasse no meio da noite a vovó iria ampará-lo, dar água, alguma frutinha, colo, amor, pois eu e meu marido estaríamos ocupados com o nascimento de sua irmãzinha.
Minha mãe chegou. Já tínhamos conversado um pouco sobre o assunto: a necessidade de alguém para ficar só por conta do João. E, ninguém mais apropriado que minha mãe. Como era de noite e ele já dormia, pedimos a vovó que dormisse no quarto do João, no colchão ao lado do dele. E com porta fechada. Falei para minha mãe não se preocupar, que estava tudo certo, que a equipe era de nossa confiança. Já havíamos passado por isso, a gestação foi sem problemas, a bebê estava bem, eu também, e tudo iria ocorrer bem, na graça de Deus. As parteiras e doula chegaram. Minha mãe se tranquilizou vendo o material da equipe de parto domiciliar (balão de oxigênio, luvas, etc.). Conversei com ela que o melhor que poderia fazer por nós aquele momento seria rezar. E ela aceitou e foi para o quarto. Que bom, que alívio. Apesar de querer que João participasse do nascimento da irmã, fiquei satisfeita dele estar dormindo naquela hora. Afinal não sabia quanto  tempo duraria esse processo. Fotógrafa chegou.
Era uma casa cheia. Vendo a chegada de todos, fiquei receosa com uma possível falta de privacidade, mas isso não aconteceu. Sobre minha mãe e João? Nem ouvi falar (deviam estar dormindo mesmo). Fotógrafa super discreta, para não falar invisível. Parteira, assistente de parteira e doula compreensivas, e marido do lado. Tudo ok. Ah sim, faltava uma coisa: a piscina para o parto. Ouvi meu marido perguntando sobre a piscina e logo a resposta: “ficou em casa, vim na pressa”... Não lamentei muito afinal a piscina não era tão essencial assim, mas um desejo meu que no parto posterior pude realizar.
Era uma casa de criança: música de criança ligada na TV, brinquedos espalhados pela sala. Me sentia um tanto infantil. Era mãe de um bebê, e, por vezes me tornava mãe meio bebê com meu filho. Logo desliguei tudo (ou pedi para desligar, não lembro ao certo). Sons, luzes cessando para a paz reinar.
Era uma casa que já sabia o que estava por vir. Sabia mais ou menos o que fazer, o que sentir. Era uma casa feita com muito esmero, na rua dos bebês, número 2.
As contrações vinham agora mais fortes e o pensamento: “como é que eu fui me meter aqui novamente? ”. Esqueci da dor. Lembrei do amor. Daí na hora que a dor veio, aí lembrei dela novamente. Uma dor, inexplicável, incomparável. Eu só queria que meu marido sentisse o que eu sentia. Ele estava tranquilo e rindo. Mas, por mais que já tivéssemos passado por aquilo juntos, era eu quem estava sentindo a dor. E, me incomodava um pouco sua forma de agir naquele momento. Não sei se é falta de compreensão minha, mas eu queria um pouco mais de empatia nessa hora. Não é uma hora fácil. Nesse momento eu estava bastante enjoada e irritadiça. As piadas não eram nenhum pouco engraçadas pelo contrário, me faziam mal. Sentia náuseas com cheiros, inclusive do meu marido, coitado. Era muito hormônio envolvido.
Meus seios cheios de leite que eram também do bebê. Do outro bebê. Que outro bebê? O que estava na barriga, ou o que estava dormindo? Que confusão. Desconforto. Meu corpo irreconhecível, transformado por duas gestações muito próximas. E eu me questionava se teria fôlego para tudo isso. Um investimento emocional e corporal muito grande. Eu daria conta de vivenciar isso? Até quando? E não era só viver assim por viver, mas ser feliz. Com duas crianças pra cuidar. Era o medo da maternidade novamente. Com dores e enjôos, Deus em sua infinita misericórdia e amor me alimentava. E assim, eu tinha energias para suportar tudo aquilo.
Fui para o chuveiro na expectativa da bebê nascer lá, como foi com João. Mas não. O chuveiro foi bom para relaxar. Meu marido me acompanhava. Saí do chuveiro busquei relaxar na medida do possível na cama. Como eu queria relaxar, dormir. Pois afinal, era madrugada, eu estava exausta. Queria dizer: falou pessoal, vou dormir. Só que não.
Então fui para a banquetinha de parto. Na hora, olhei para aquele objeto e pensei: “como vou sentar nisso? ” Mas... deu. E, ali, sentindo as contrações nível “mega fortes”; a pressão da bebê que estava prestes a ser expelida; a concentração das parteiras e meu marido; a intercessão dos anjos e de Nossa Senhora; o olhar do Pai, percebi a vinda de Cecília. 

        Mais uma ficha caía na minha vida. Vou ter uma filha, uma menina!!! Que felicidade, que maravilha. Meu mal-estar foi saindo e dando lugar a uma profunda gratidão e admiração. Quão bela é a criação de Deus. Um parto não é uma maldição, ao contrário, uma benção. O nascimento de uma criança não é um problema a ser resolvido, nem um fardo, mas um milagre. Que dia feliz! Que momento bem quisto, e almejado. A cabecinha estava saindo e a parteira falou para eu ir com calma, respirar. Para não machucar.  Esperei a natureza me mover e foi isso que aconteceu. Numa força saiu toda a cabeça, noutra força saiu o corpo por completo.
A parteira amparou Cecília. A entregou em meus braços, eu a segurei e olhei. Que menina linda. Sim, ela era especialmente linda. Uma gracinha. Sem cara de joelho (mãe não tem jeito né?). Ela era perfeita. Dedinhos bonitos, tudo proporcional, tudo no lugar. Um cordão umbilical bonito. Eu pude a observar bastante. Estava totalmente consciente e lúcida. Não tive delírios como no parto do João. Não vi estrelas. Passei na partolândia sim, mas era uma partolândia diferente. Não era a loucura surreal do parto do João, era um lugar mais enjoado e incômodo. Acho que cada parto tem sua partolândia.
Cecília era tranquila. A placenta nasceu em seguida. Logo estávamos na cama. Eu deitadinha, ela mamando. Períneo íntegro. Nossa princesa nasceu as 5h24 do dia 8 de abril de 2016, com  3,650kg.
Joãozinho chegou no quarto no colo do pai para ser apresentado a irmã em seus primeiros instantes de vida. E veio minha mãe e viu a neta pela primeira vez nos primeiros instantes de sua vida. Era um momento de contemplação e silêncio.
Com a sucção do leite, a contração do útero voltando ao lugar. Era uma contração muito intensa. Voltei para um lugar enjoado e dolorido. Recebi acupuntura da doula. Minha mãe fez uma comidinha para mim. Daniel já tinha segurado a bebê, que vestia a mesma roupinha e touquinha de João quando nascera. Que fofo! Revivia o parto do ano anterior, que apesar de diferente também era igual. Quase como um flash back.
Daniel cuidou de João e ambos observavam a nova bebê recém-nascida e a mamãe recém-parida. E mais uma vez eu agradecia ao Senhor, que fez maravilhas em nossas vidas. Um quadro de muito amor. E o amor é algo impressionante que havia se multiplicado na nossa família.

Agora era bola pra frente. Gerenciar, cuidar e amar essas duas criaturinhas que Deus havia me confiado.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

PARTO DO JOÃO: NASCE UMA MÃE (relato de parto domiciliar planejado)

Caindo a Ficha

Na tarde do dia 31 de janeiro de 2012 fui ao banheiro fazer xixi, quando limpei observei um risquinho rosa no papel. Liguei para a médica-parteira para a avisar do acontecimento, afinal já estava com 41 semanas e 4 dias e ainda nenhum sinal de trabalho de parto. Ela falou para eu descansar. Falei para ela que estava tocando, me preparando para a última prova para seleção de professores de Música da UAB/UnB. Falei a ela que iria dar certo. Que eu iria ser a primeira a fazer a prova na manhã do dia seguinte e quando eu acabasse de tocar a última nota o bebê iria nascer, ali mesmo, na sala de prova.
Desliguei o telefone e liguei para meu marido para contar a novidade e minha angústia. Já tinha desistido e voltado a resolver realizar a tal prova diversas vezes. Eram muitas fases: prova escrita, oral, didática, prova de inglês, performance, sem contar com entrega de currículo, trabalhos, vídeos, etc. A data da prova fora alterada umas três vezes por diversos motivos. Mas como eu já havia feito as primeiras provas e passado com nota boa, com chance real de ser selecionada, eu não conseguia largar o osso. Tendo em vista ainda que eu tinha acabado de concluir mestrado, os estudos e autores da área na ponta da língua e do lápis, papelada toda atualizada. Esperar para fazer essa prova depois poderia ser um grande erro. E também que era um sonho dar aula em universidade. Sonho que, acredito, passou de pai para filha... A verdade é que eu estava com a cabeça muito mais na prova que no nascimento do meu bebê. Ele poderia esperar, a prova não. A médica me liga logo em seguida e sugere eu esquecer da prova...
É hoje que vai nascer!? Será possível esperar até agora, e meu esforço ter sido em vão? Não! Pensei. Deveria estar muito feliz com os primeiros sinais da vinda do meu bebê. Já tinha conversado com marido e médica de que o ideal era esperar até 42 semanas, que estavam chegando. Minha preocupação com a prova poderia sim estar atrasando meu trabalho de parto. Me atrapalhando psicologicamente. Eu sabia disso. Já haviam me perguntado o que era mais importante para mim. Mas eu pensava: eu fiz todas as provas, só falta uma. Meu bebê está esperando eu a fazer para depois nascer.
Eu estava no sofá deitada pensando em descansar para não acelerar um possível trabalho de parto. Pensando na minha performance da prova. Eu queria muito fazer aquela prova, a última. Foi quando senti vontade de fazer xixi novamente. Fui ao banheiro e, de repente a bolsa estourou, parcialmente. Saiu um líquido e também um pouquinho de sangue. Isso foi início da noite, umas 19h. Liguei novamente para a médica. Liguei para o meu marido e para a doula. Logo todos estariam aqui em casa. Meu marido ficou feliz: Tá chegando nosso filho, amor!
Ainda ali no banheiro olhando para o líquido transparente no chão que havia saído de mim, liguei para minha mãe. Como nossa escolha (minha e do meu marido) fora o parto domiciliar planejado (não pensem que isso foi fácil, capítulo a parte), e isso não era muito bem aceito, queria ao mesmo tempo que ela ficasse informada que iria nascer, e que também se tranquilizasse.  Pois em um parto, quanto menos pessoas ansiosas presentes, melhor. E eu sabia que minha mãe iria ficar ansiosa. Afinal é minha mãe. Grande parte das mães ficam aflitas vendo o filho sentir dor. Eu sabia que poderia ser complicado para ela. Por isso resolvi ligar. Para deixar subentendido para não vir me fazer visita surpresa. O melhor que ela poderia fazer por nós naquele momento rezar. Ela ficou feliz com a notícia e falou que eu conseguiria, que seria fácil e rápido, assim como foi com ela. Isso me deu confiança. Minha mãe querida ficou emocionada, queria falar mais ao telefone. Falou ainda que era só fazer força, uma forcinha.
Desliguei o telefone e foi exatamente o que eu fiz. Fiz uma força, fiz mais força, uma forçona... Como eu estava descansada fisicamente, fiquei fazendo forças estupendas acreditando que isso era necessário. Me exauri em algum momento e me frustrei, nada tinha acontecido. Meu bebê não tinha nascido ainda. Até pensei: queria que nascesse aqui agora sem ninguém e quando todos chegassem o bebê já estaria em meus braços.
Era meu primeiro filho, eu não sabia nada prático sobre trabalho de parto, só teórico, e olhe lá. Por mais que tivesse me preparado, a gestação fora num momento conturbado da minha vida - meu pai acabara de falecer, mudei de casa (juntei as trouxas com meu marido), provas e outras perspectivas profissionais. Então, não sei até que ponto eu estava conectada com meu bebê, meu corpo, minha alma. Não era o momento de fazer força. Eu ainda nem tinha sentido as contrações. Ao contrário, era o momento de respirar, relaxar, descansar.

Uma coisa que eu aprendi é que cada mulher tem sua experiência única. A força, se é que é para ser feita, é lá no final, no expulsivo e não no início. A bolsa pode estourar no final, no meio ou no início do trabalho de parto, ou mesmo nem estourar.

Enfim, resolvi ir tocar e treinar para aquela prova, para ao menos apresentar para a médica, doula e meu marido quando chegassem.  Comecei a tocar e vieram as contrações. Começaram bem tranquilas a ponto de quase nem atrapalhar minha performance (rs). Eu tocava uma música minha no pífano e utilizava o loopstation para acrescentar as diversas linhas melódicas das músicas.   
Chegaram! Mostrei o líquido para a médica, marido, doula. Ainda cogitei meio brincando, meio sério em fazer a prova durante as contrações. Não sabia quanto tempo iria durar aquilo tudo, vai que virava a noite daquele mesmo jeito e eu conseguisse ir para a prova, daquele jeito mesmo... Falei então que queira tocar para eles (marido, médica, doula e assistente da doula), ali naquele momento.Todos ouviram meu recital. Eu estava nua, sentindo contração, com líquidos saindo pelo corpo e tocando... Deveriam pensar: que mulher maluca, não vamos a contrariar né? (rs)
As contrações iam ficando mais intensas e dolorosas. E num momento não consegui mais tocar. Foi aí que caiu a ficha. Eu não iria fazer prova coisa nenhuma. Meu filho iria nascer. Ele era minha prioridade agora. Eu queria ele. Foi então que eu “chutei o balde” dos meus projetos e expectativas profissionais. Resolvi me entregar para o parto.
Que loucura. Entrei na partolândia. Quer dizer, fui entrando nesse mundo estranho. Surreal. Fui entrando até chegar ao centro. Contrações e mais contrações, cada vez mais intensas, mais fortes. O que é isso, Senhor? Uma coisa é ouvir falar sobre, outra coisa é sentir. Impressionante, incomparável. O corpo com vida própria.
Noite a dentro, madrugada, eu queria dormir, estava ficando exausta. Mas não dava para dormir. As contrações voltavam e mais intensas. Meu Deus, onde isso vai dar? Quero ir para o hospital, falava alto, sei lá se gritando.
Fiquei maior parte do tempo com a doula. Médica e marido conversavam na sala.  Foi então que me levaram para o chuveiro. Daniel ia e vinha, estava bastante emocionado.
Tive medos. No pré-natal feito com um outro médico, por volta dos cinco, seis meses de gestação, ele informou que João era muito grande e que não iria ter passagem para nascimento vaginal. Me informei com outros médicos e mães e pesquisas científicas e vi que era sim possível ele nascer de parto natural, muito mais do que não nascer. Mas isso, naquele momento voltou à tona no meu pensamento. Tive medo de morrer. Tive medo do meu filho morrer, ter complicações. Precisar ser transferido para hospital. Tive medo do que iriam dizer. Da culpa. Orei a Deus. Nesses momentos temos medo de dizer: Que seja feita a Sua vontade, pois muitas vezes a vontade de Deus não é a mesma que a nossa. Mas eu não tive para onde fugir. Orei. Me abençoa Senhor, nos salva da morte, ilumina meu bebê dá-nos vida. E que seja feita a Sua vontade.
No chuveiro “estourou a outra metade da bolsa”, pelo menos é essa a sensação que tenho. Saiu muito líquido dessa vez. E com mecônio.
Tive raiva de ter feito força no momento errado. Pensava se isso poderia ter influenciado num possível sofrimento fetal...
Estavam todos no banheiro, dentro do chuveiro comigo. Médica na frente, doula atrás e Daniel em cima. Isso me relataram depois, pois naquela hora eu já não tinha mais noção de nada. Eram muitos cheiros, sensações, cores, dores, pensamentos, alucinações. Muito hormônio. Muito suor, água, calor e calafrios. Ocitocina.  E também adrenalina. Era um filho chegando. Um filho meu, para eu cuidar. Um filho nosso, para gente cuidar. Viesse como viesse, iria o amar.
Eu já não tinha mais energia para nada. Dei tudo de mim. Parecia que tinha desistido, perdido as esperanças. Mas, o período expulsivo reserva surpresas. É um momento incrível em que percebemos a presença de Deus manifesta na natureza. Quando eu achava que não tinha mais forças eu a fiz. No momento certo, junto com a contração. A cabeça coroou. Que situação. Que posição. Que sensação. Um milagre. A doula falou que eu estava linda. A doula e a médica me encorajavam dizendo que estava tudo lindo, tudo certo.
Era um bebê grande. Em um momento a doula falou: “Flor, seu bebê tem que nascer agora”. Eu estava na posição de cócoras. Nessa posição eu me senti empacada, já tinha ficado tempo demais nela. Pelo menos pra mim, naquele momento. Falei que queria mudar de posição. Me apoiaram. Fui para a posição de quatro bases. Eu ia me partir ao meio. Agora não tinha mais volta. O barco já estava em altíssimo mar. Não tinha mais nenhuma opção. Teria que atravessar esse oceano. Seja o que Deus quiser. Fiz força, a maior da minha vida. Gritei. A cabeça saiu totalmente. Depois mais força, e ombros saíram. Abri meus olhos e o mundo ainda estava ali. Eu já não sentia mais dor. Não senti dor no expulsivo, mesmo lacerando. As dores das contrações já eram exorbitantes e me prepararam para isso. Foi um alívio, foi bom. E o resto do corpo do João escorregou.
Foram oito horas de trabalho de parto, João nasceu as 3h12min (era horário de verão, então horário correto seria 2h12) do dia 01 de fevereiro de 2012, com 3,960kg. 
Estávamos na mão de Deus, eu e meu filho. João nasceu roxinho. Meio mole. Eu o peguei. O cheirei. O observei todo. Logo ele recebeu massagem da doula. Daniel chorava. Enquanto isso senti mais contração. Pensei: “nunca mais na vida vou parar de sentir contração?” Gritei: “o que é isso?” "Calma, é a placenta".
Confiávamos nas profissionais que nos atendiam nesse momento. Deus as iluminava. João ficava cada vez melhor. Daniel segurou João no colo. Emoção e amor. Pensei na questão dos óculos. Queria falar para Daniel tirar os óculos para João olhar no seu olho. Tinha lido sobre a importância do olho no olho. O primeiro olhar do bebê. Mas, foi assim com óculos mesmo, o olhar apaixonante.
Eu não estava acreditando em tudo o que eu tinha passado. Em tudo que pude vivenciar, suportar e gozar. Eu estava viva, meu filho também. E estávamos bem. Graças a Deus. Apenas a laceração, que veio naturalmente, que não foi grande. A médica deu ponto e pronto. Mas isso não era nada, nada comparado com toda a maravilha que eu havia vivenciado. Não tomei nenhuma droga, comi o que eu quis, fiquei nas posições que me eram adequadas, fui tratada com respeito e carinho, sem pressa. Foi um risco. Gestar uma criança é um risco. Estar vivo é arriscado. E Deus nos livra a cada dia. A cada dia me lembro de dar graças pela vida. 
Fui para a cama amamentá-lo. E a partir desse dia eu nunca mais seria a mesma.

Todo meu processo do parto, do meu primeiro parto, foi muito intenso. Um morrer e um reviver. Acredito muito no que falam sobre a percepção de dor no parto. Que muitas vezes a dor maior não é a física, mas sim a psicológica. Eu não estava sofrendo com práticas medicinais obsoletas no meu parto, pelo contrário, foi um lindo parto humanizado. Mas talvez estivesse num trabalho de parto de todos os meus projetos e planos, incertezas e frustrações da vida, alegrias. Muitas emoções que também não são claras. Era uma deixar morrer tudo isso e renascer coisas novas.
Dizem que o trabalho de parto que uma mulher passa é exatamente o trabalho de parto que ela precisa passar. Se é uma semana, meia hora, não importa, o que for é o necessário. Afinal é uma passagem. Uma passagem em que precisam ser transformadas e resinificadas muitas coisas da vida. Uma oportunidade única de crescimento espiritual e emocional. Uma entrega, que não é fácil. Acreditar em Deus e que Suas decisões são as melhores, mesmo que eu não compreenda foi crucial para mim na hora do parto.
 Não posso deixar de revelar que tive a grande felicidade de desfrutar desse momento e saber que não morreria “na natureza”. Esse pensamento sempre vem a minha cabeça. E se eu estivesse só numa ilha deserta? Ou mesmo com outras pessoas, mas sem recursos tecnológicos mais avançados?
Sobrevivi!
A energia que me brotou nesse parto está até hoje impressa no meu ser, no meu pensamento, e, em cada célula do meu corpo. Um dia inesquecível. Que mais para frente eu iria querer repetir sim, afinal, como disse uma amiga, parto vicia.
O lugar que esse parto aconteceu é abençoado. Na nossa casa. Hoje não moramos mais naquele apartamento, mas as lembranças ficam. E o cheiro também. Quem passar por aquelas paredes irá sentir (rs). Ah sim, esqueci de contar que na parede do nosso quarto ficaram marcas de açaí respingado. Em algum momento do parto, antes de entrar na partolândia, eu cismei que queria açaí. Daniel foi na busca. Claro, nesse dia tinha acabado o açaí no ponto mais próximo, a outra loja tinha fechado. Daniel atravessou a cidade em busca do tal açaí, quando chegou eu já estava chateada, engoli o açaí e acabei vomitando pelo quarto, também pelo trabalho de parto em andamento. Quando minha mãe e irmã chegaram na minha casa no dia seguinte para nos visitar ficaram espantadas com a cena. Acharam que era sangue pelas paredes. Eu logo as tranquilizei falando que era açaí.
Finalizo meu relato lembrando que, nesse dia eu estava ansiosa com dois assuntos: a prova e o parto. Eram momentos divisores de águas na minha vida. E, sim tiveram que coincidir no mesmo dia. A meu contragosto. Entretanto, como velho ditado popular diz: Deus escreve certo por linhas tortas.  Mas Deus sempre escreve tudo certo por linhas certas, a gente que vai entortando as coisas. Sou grata por tudo que Ele me proporcionou. Por esse momento decisivo que me fez refletir sobre minha escolhas e atitudes diante da vida. Me fortaleceu e me amou. Me preparando assim para uma etapa mais difícil ainda, o puerpério. Mas também gratificante. 
A longa jornada da maternidade havia apenas começado. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

RELATO DE PARTO: SARA, baby #3. Meu terceiro parto domiciliar planejado

Resolvi escrever os relatos dos meus partos. Vou começar pelo último...


Era a data (im)provável do parto. Quarenta semanas exatas. Na manhã do dia 29 de outubro de 2015, descemos a família toda para brincar em baixo do bloco. Encontramos coleguinhas das crianças e tudo mais. Conhecidos e amigos perguntavam quando Sara iria nascer. Eu dizia que já estava valendo. Dizia isso desde as trinta e sete semanas.
Eu sentia as contrações como nunca havia sentido: bem tranquilamente. Foi um processo tão, mas tão (não tenho nem palavras) talvez, tão “respirado”, que nem sei se aquilo era um trabalho de parto. Já fazia um tempo que eu sentia esse processo respirado, um mês mais ou menos.
Nessa manhã do dia 29 ficamos um bom tempo lá em baixo, quando... percebi que era melhor subir, rs. Enquanto eu atravessava o bloco (nosso bloco é colado a outro bloco e estávamos na ponta oposta à nossa portaria), sentia as contrações avançando e cada vez me imobilizando mais, mas não eram nem de longe as contrações surreais que senti nos meus partos anteriores. Sentia também meu corpo se abrindo. Se abria lindamente, respiradamente. Meu corpo passava por um processo intenso, mas não avassalador como em experiência anterior.
Nesse trajeto - super mega lento - em que eu parava e respirava a cada contração, as pessoas que passavam (vizinhos, porteiros e transeuntes), preocupadas me perguntavam: “Você está bem? ”; “Cadê seu marido?”; “Quer que eu ligue para o médico?”; “Quer que eu te leve para o hospital?”. Se admiravam quando eu apontava para meu marido: “Ele está ali brincando com as crianças”.
Me perguntavam mais de uma vez. Parece que paravam e sentiam a contração junto comigo, respiravam também. Me pergunto o que será que deveria estar passando na cabeça das pessoas. De qualquer forma nesse dia, nesse momento, eu não iria ficar me explicando para alguém. Explicando sobre nosso parto domiciliar planejado. Eu queria fluência, suavidade e amor transbordando. Precisava da união da nossa família, da proteção dos anjos, do olhar de Nossa Senhora e da graça de Deus. Ah, sim, mais uma coisa também: água morninha!
Enfim, consegui atravessar o bloco naquela odisseia sem fim de contrações paralisantes, porém não doloridas e aberturas corporais respiradas. Cheguei em casa, resolvi deitar, ligar para parteira. Não lembro os horários em que as coisas iam acontecendo, só sei que aconteciam... Só sei que foi assim... Depois que entrei no apartamento e relaxei, as contrações foram ficando mais espaçadas e menos intensas. Daí pensei que dê certo a bebê iria ficar mais uma ou duas semanas dentro do forninho, como fora com seus irmãos. Nesse tempo, as crianças foram para escola, a parteira e sua assistente chegaram depois e as coisas ficaram relativamente tranquilas.
Meu marido encheu de ar a piscina inflável própria para o parto. O meu processo não parou, continuava, mas bem suave. Sem partolândia. Parteira, assistente, doula e marido apostavam que o parto iria rolar sim, em algum momento... Mas quando? Bom eu apostei que iria ser na madrugada, afinal meus partos anteriores foram na madrugada. Era de tarde, depois de um bom tempo de convivência aqui em casa, parteira e assistente descem para conversar e me deixar um pouco a sós com meu marido. A doula também ficou. Começamos a ajeitar algumas coisinhas do bebê...
Tínhamos decido encher a piscina de água quente apenas quando o processo estivesse mais avançado. Eu queria que a neném nascesse na água, mais do que ficar durante o trabalho de parto na água. E a água deveria estar morninha. Então retardamos o enchimento da piscina. Foi quando estávamos relembrando uma amarração de fralda de pano que eu senti uma contração forte e dolorosa. Foi engraçado, pois eu estava falando e de repente meu tom de voz mudou. Lembro que Daniel e Fernanda doula sorriram. Eu me senti um outro ser, ou melhor senti que eles não eram mais da minha espécie (espécie mãe parindo agora, é um outro ser, kkk). Aí eu tive certeza: Tá vindo!
Iupi! Rápido, liga pra Ritta e pra Dawn subirem. Rápido amor enche a piscina de água quente! Estávamos no quarto vendo a questão da fralda, a piscina estava na sala. Que trajetória até lá! Odisseia também. Uhu! Cheguei! Me apoiei na mesa da sala e não conseguia mais sair. As contrações eram doloridas, e eu estava ali de pé as sentindo. Que maravilha. A piscina estava a alguns passos e eu não conseguia mais me mover. Fiquei um tempo ali e senti vontade de fazer xixi. Na hora eu cogitei ir ao banheiro, mas não conseguia me mexer. Falei que queria fazer xixi e logo trouxeram os panos de chão novinhos comprados para o parto. Pensei que era desperdício - olha só o pensamento bobo. Tinha uns cinquenta panos de chão novos lá em casa só para esse dia. Enfim depois de alguns segundos relutando, fiz xixi no pano de chão novo, em pé. Melhor fazer ali, que na piscina, pensei. E eu ia entrar naquela piscina e minha bebê nascer lá!!!
Perguntei em voz alta: “E se eu fizer xixi na piscina do parto na hora do parto?” E Ritta responde: “Não tem problema querida você pode fazer”. Sempre acolhedora em seus comentários, Ritta falava que eu podia fazer o que eu quisesse, e me perguntou o que eu queria fazer. Que pergunta forte. Mexia comigo, pois por um lado eu queria responder quero descansar, para tudo. Por outro lado, quero parir meu bebê, pegá-lo em meus braços. Mas se for pensar direito não são respostas antagônicas, mas complementares... Isso tudo eu pensei, não falei na hora.
Bom, não sei ao certo o que ela falou depois, mas sei que explicou que o que eu fizesse, o que saísse de mim, naquele momento não iria fazer mal para o bebê. Não iria ser sujeira. Me deu segurança e tranquilidade para eu poder expelir meus líquidos. Líquidos do parto. Só sei que foi assim. A bolsa estourou nesse momento, eu em pé mesmo, a alguns passos da piscina.
Logo que pude, entrei na piscina, com ajuda da parteira e meu marido.
NOSSA! Nunca a sensação da água quente no meu corpo foi tão boa. Eu pensava e falava alto: Toda mulher, toda grávida merece essa sensação. Foi tão bom que eu queria ficar ali e não sentir mais contração. E pior que foi isso que aconteceu, deu uma desacelerada no processo. Mas não minguou por completo, eu sentia ainda as contrações. Era intenso, mas não era alucinante como havia sido em partos passados.
            Bom, depois de um tempo respirando, trocando carinhos com meu marido (ele não entrou na piscina pois estava enchendo a piscina junto com a assistente) a parteira fala para mim: “Valéria, quando a contração vier, quando você quiser, sentir o momento, pode fazer força”. Fiquei perplexa, será? - eu estava retardando ao máximo fazer força, pois na trabalho de parto do meu primeiro filho fiz força num momento errado, bem no início do trabalho de parto (o motivo vou redigir no relato de parto do João). 
           Foi então esperei a contração vir. Fiz força e ela disse: “Segura seu bebê que a cabeça já saiu”.  Não acreditei. Eu estava na posição de quatro bases e não consegui me organizar para aparar o bebê (tinha conversado previamente com a parteira que esse era o meu desejo). Daniel veio por trás e na segunda ou terceira força que fiz a bebê nasceu por completo. Na água como havíamos planejado. Incrível, logo ele a passou para mim. A parteira orientou para ter cuidado pois o cordão umbilical era curto. Que felicidade. Ah sim, eram 18h20, a assistente da parteira lembrou de ver as horas.






            Ficamos ali namorando o bebê que acabara de nascer. Sara, nasceu linda, rosa. Com 3, 565kg. Logo, fui transferida, para o colchão improvisado ali ao lado. Sim, Daniel e parteira me retiraram da piscina no colo. Para ser mais exata, nos colocaram no colchão, eu e minha pequena que estava agarradinha comigo. Não que eu não pudesse me mover, mas que a parteira fazia questão de me tratar muito, muito bem, desde sempre. Tudo o que eu precisasse: água, comida, massagem, palavras, etc. estava ali, próximo e rápido. Eu não faria mais esforço algum aquele dia, apenas cuidar da minha bebê, amamentá-la.
E, nesse colchão dei mamá para Sara e a placenta nasceu. Passado o tempo, Daniel cortou o cordão umbilical as crianças chegaram da escola (a doula tinha ido buscar). João perguntou: “Já saiu?” Ele estava na expectativa de ver a irmã nascer, tínhamos nos preparando para isso, lido o lindo livro da Naoli e visto seu vídeo de parto. João e Cecília não estavam presentes no momento exato do nascimento mas chegaram a tempo de ver a placenta, já estava no pote de sorvete. A examinaram acharam interessante. Chegaram a tempo de ver a piscina cheia de água com um pouco de sangue. Chegaram a tempo de sentir o cheiro de ocitocina no ar. Chegaram a tempo de ver o primeiro mamá da irmãzinha.  


Foto Família Pós -Parto Domiciliar. As crianças já tinham tomado banho (querida doula cuidou disso).

Manhãzinha do dia seguinte do parto. Acima João segurando a irmãzinha. 
Abaixo Cecília segurando a irmãzinha, instruída por João.

E foi tudo certo, graças a Deus. A equipe e família jantavam macarronada feita pelo meu marido e eu amamentava. Também comi, claro. Já era noite, equipe do parto foi embora, eu fui para o quarto com a bebê e meu marido. As crianças já dormiam no quarto delas.  Fomos todos dormir. Dormir com mais um integrante da família ali. Tudo tranquilo. Obrigada Senhor! Era sim um parto de filme, como está na moda, como muitos eu assisti e que me auxiliaram no meu parto.  Dessa vez não filmamos, apostei no meu recolhimento, introspecção e vivência em família.
Quando me perguntam quanto tempo durou esse trabalho de parto não sei responder. Dependendo do ponto de vista, talvez um mês, talvez quinze minutos. Pois foi direto desse processo respirado para o expulsivo que nem sei dizer quanto minutos durou. Só sei que por um lado o expulsivo foi rápido, muito rápido, e, por outro, o processo de respiração e abertura do corpo e contrações foi muito lento, suave.
No dia seguinte a vovó já estava lá em casa paparicando mais um netinho.




Agradeço a Deus pela vida, a meu marido pelo apoio incondicional, toda equipe do parto, todas as mães que compartilharam suas experiências e que me auxiliaram a desejar esse parto. 

Para quem tiver interesse esse é o link para vídeo no youtube do parto de Naoli Vinaver:
https://www.youtube.com/watch?v=nOBhIC55kEA
E o livro de Naoli que li com as crianças (cheio de ilustrações belíssimas) se chama:
Nasce um bebê naturalmente


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Bebê de Casa





Meu bebê nasceu em casa deixando os dias mais bonitos e as noites ensolaradas (bis)

Lembro de tudo e não lembro nada, eu senti tudo e não sinto nada, dia que tanto o tempo correu que parou.

Parou no sul, dissipou meu norte, vento do leste bateu tão forte, que o oeste inteiro ouviu e abençoou.

Não acredito no que sucedeu, nova criaturinha nasceu, muito amor que Deus me deu, pedaço meu.

Simples mais simples não tem igual, meu bem-te-vi espanta o mal, meu beija-flor, minha linda flor, meu amor.

De Valéria Lehmann