Crianças, Cuidado!

Crianças, Cuidado!
Amor de mãe, amor de irmãos

quinta-feira, 23 de junho de 2016

PARTO DO JOÃO: NASCE UMA MÃE (relato de parto domiciliar planejado)

Caindo a Ficha

Na tarde do dia 31 de janeiro de 2012 fui ao banheiro fazer xixi, quando limpei observei um risquinho rosa no papel. Liguei para a médica-parteira para a avisar do acontecimento, afinal já estava com 41 semanas e 4 dias e ainda nenhum sinal de trabalho de parto. Ela falou para eu descansar. Falei para ela que estava tocando, me preparando para a última prova para seleção de professores de Música da UAB/UnB. Falei a ela que iria dar certo. Que eu iria ser a primeira a fazer a prova na manhã do dia seguinte e quando eu acabasse de tocar a última nota o bebê iria nascer, ali mesmo, na sala de prova.
Desliguei o telefone e liguei para meu marido para contar a novidade e minha angústia. Já tinha desistido e voltado a resolver realizar a tal prova diversas vezes. Eram muitas fases: prova escrita, oral, didática, prova de inglês, performance, sem contar com entrega de currículo, trabalhos, vídeos, etc. A data da prova fora alterada umas três vezes por diversos motivos. Mas como eu já havia feito as primeiras provas e passado com nota boa, com chance real de ser selecionada, eu não conseguia largar o osso. Tendo em vista ainda que eu tinha acabado de concluir mestrado, os estudos e autores da área na ponta da língua e do lápis, papelada toda atualizada. Esperar para fazer essa prova depois poderia ser um grande erro. E também que era um sonho dar aula em universidade. Sonho que, acredito, passou de pai para filha... A verdade é que eu estava com a cabeça muito mais na prova que no nascimento do meu bebê. Ele poderia esperar, a prova não. A médica me liga logo em seguida e sugere eu esquecer da prova...
É hoje que vai nascer!? Será possível esperar até agora, e meu esforço ter sido em vão? Não! Pensei. Deveria estar muito feliz com os primeiros sinais da vinda do meu bebê. Já tinha conversado com marido e médica de que o ideal era esperar até 42 semanas, que estavam chegando. Minha preocupação com a prova poderia sim estar atrasando meu trabalho de parto. Me atrapalhando psicologicamente. Eu sabia disso. Já haviam me perguntado o que era mais importante para mim. Mas eu pensava: eu fiz todas as provas, só falta uma. Meu bebê está esperando eu a fazer para depois nascer.
Eu estava no sofá deitada pensando em descansar para não acelerar um possível trabalho de parto. Pensando na minha performance da prova. Eu queria muito fazer aquela prova, a última. Foi quando senti vontade de fazer xixi novamente. Fui ao banheiro e, de repente a bolsa estourou, parcialmente. Saiu um líquido e também um pouquinho de sangue. Isso foi início da noite, umas 19h. Liguei novamente para a médica. Liguei para o meu marido e para a doula. Logo todos estariam aqui em casa. Meu marido ficou feliz: Tá chegando nosso filho, amor!
Ainda ali no banheiro olhando para o líquido transparente no chão que havia saído de mim, liguei para minha mãe. Como nossa escolha (minha e do meu marido) fora o parto domiciliar planejado (não pensem que isso foi fácil, capítulo a parte), e isso não era muito bem aceito, queria ao mesmo tempo que ela ficasse informada que iria nascer, e que também se tranquilizasse.  Pois em um parto, quanto menos pessoas ansiosas presentes, melhor. E eu sabia que minha mãe iria ficar ansiosa. Afinal é minha mãe. Grande parte das mães ficam aflitas vendo o filho sentir dor. Eu sabia que poderia ser complicado para ela. Por isso resolvi ligar. Para deixar subentendido para não vir me fazer visita surpresa. O melhor que ela poderia fazer por nós naquele momento rezar. Ela ficou feliz com a notícia e falou que eu conseguiria, que seria fácil e rápido, assim como foi com ela. Isso me deu confiança. Minha mãe querida ficou emocionada, queria falar mais ao telefone. Falou ainda que era só fazer força, uma forcinha.
Desliguei o telefone e foi exatamente o que eu fiz. Fiz uma força, fiz mais força, uma forçona... Como eu estava descansada fisicamente, fiquei fazendo forças estupendas acreditando que isso era necessário. Me exauri em algum momento e me frustrei, nada tinha acontecido. Meu bebê não tinha nascido ainda. Até pensei: queria que nascesse aqui agora sem ninguém e quando todos chegassem o bebê já estaria em meus braços.
Era meu primeiro filho, eu não sabia nada prático sobre trabalho de parto, só teórico, e olhe lá. Por mais que tivesse me preparado, a gestação fora num momento conturbado da minha vida - meu pai acabara de falecer, mudei de casa (juntei as trouxas com meu marido), provas e outras perspectivas profissionais. Então, não sei até que ponto eu estava conectada com meu bebê, meu corpo, minha alma. Não era o momento de fazer força. Eu ainda nem tinha sentido as contrações. Ao contrário, era o momento de respirar, relaxar, descansar.

Uma coisa que eu aprendi é que cada mulher tem sua experiência única. A força, se é que é para ser feita, é lá no final, no expulsivo e não no início. A bolsa pode estourar no final, no meio ou no início do trabalho de parto, ou mesmo nem estourar.

Enfim, resolvi ir tocar e treinar para aquela prova, para ao menos apresentar para a médica, doula e meu marido quando chegassem.  Comecei a tocar e vieram as contrações. Começaram bem tranquilas a ponto de quase nem atrapalhar minha performance (rs). Eu tocava uma música minha no pífano e utilizava o loopstation para acrescentar as diversas linhas melódicas das músicas.   
Chegaram! Mostrei o líquido para a médica, marido, doula. Ainda cogitei meio brincando, meio sério em fazer a prova durante as contrações. Não sabia quanto tempo iria durar aquilo tudo, vai que virava a noite daquele mesmo jeito e eu conseguisse ir para a prova, daquele jeito mesmo... Falei então que queira tocar para eles (marido, médica, doula e assistente da doula), ali naquele momento.Todos ouviram meu recital. Eu estava nua, sentindo contração, com líquidos saindo pelo corpo e tocando... Deveriam pensar: que mulher maluca, não vamos a contrariar né? (rs)
As contrações iam ficando mais intensas e dolorosas. E num momento não consegui mais tocar. Foi aí que caiu a ficha. Eu não iria fazer prova coisa nenhuma. Meu filho iria nascer. Ele era minha prioridade agora. Eu queria ele. Foi então que eu “chutei o balde” dos meus projetos e expectativas profissionais. Resolvi me entregar para o parto.
Que loucura. Entrei na partolândia. Quer dizer, fui entrando nesse mundo estranho. Surreal. Fui entrando até chegar ao centro. Contrações e mais contrações, cada vez mais intensas, mais fortes. O que é isso, Senhor? Uma coisa é ouvir falar sobre, outra coisa é sentir. Impressionante, incomparável. O corpo com vida própria.
Noite a dentro, madrugada, eu queria dormir, estava ficando exausta. Mas não dava para dormir. As contrações voltavam e mais intensas. Meu Deus, onde isso vai dar? Quero ir para o hospital, falava alto, sei lá se gritando.
Fiquei maior parte do tempo com a doula. Médica e marido conversavam na sala.  Foi então que me levaram para o chuveiro. Daniel ia e vinha, estava bastante emocionado.
Tive medos. No pré-natal feito com um outro médico, por volta dos cinco, seis meses de gestação, ele informou que João era muito grande e que não iria ter passagem para nascimento vaginal. Me informei com outros médicos e mães e pesquisas científicas e vi que era sim possível ele nascer de parto natural, muito mais do que não nascer. Mas isso, naquele momento voltou à tona no meu pensamento. Tive medo de morrer. Tive medo do meu filho morrer, ter complicações. Precisar ser transferido para hospital. Tive medo do que iriam dizer. Da culpa. Orei a Deus. Nesses momentos temos medo de dizer: Que seja feita a Sua vontade, pois muitas vezes a vontade de Deus não é a mesma que a nossa. Mas eu não tive para onde fugir. Orei. Me abençoa Senhor, nos salva da morte, ilumina meu bebê dá-nos vida. E que seja feita a Sua vontade.
No chuveiro “estourou a outra metade da bolsa”, pelo menos é essa a sensação que tenho. Saiu muito líquido dessa vez. E com mecônio.
Tive raiva de ter feito força no momento errado. Pensava se isso poderia ter influenciado num possível sofrimento fetal...
Estavam todos no banheiro, dentro do chuveiro comigo. Médica na frente, doula atrás e Daniel em cima. Isso me relataram depois, pois naquela hora eu já não tinha mais noção de nada. Eram muitos cheiros, sensações, cores, dores, pensamentos, alucinações. Muito hormônio. Muito suor, água, calor e calafrios. Ocitocina.  E também adrenalina. Era um filho chegando. Um filho meu, para eu cuidar. Um filho nosso, para gente cuidar. Viesse como viesse, iria o amar.
Eu já não tinha mais energia para nada. Dei tudo de mim. Parecia que tinha desistido, perdido as esperanças. Mas, o período expulsivo reserva surpresas. É um momento incrível em que percebemos a presença de Deus manifesta na natureza. Quando eu achava que não tinha mais forças eu a fiz. No momento certo, junto com a contração. A cabeça coroou. Que situação. Que posição. Que sensação. Um milagre. A doula falou que eu estava linda. A doula e a médica me encorajavam dizendo que estava tudo lindo, tudo certo.
Era um bebê grande. Em um momento a doula falou: “Flor, seu bebê tem que nascer agora”. Eu estava na posição de cócoras. Nessa posição eu me senti empacada, já tinha ficado tempo demais nela. Pelo menos pra mim, naquele momento. Falei que queria mudar de posição. Me apoiaram. Fui para a posição de quatro bases. Eu ia me partir ao meio. Agora não tinha mais volta. O barco já estava em altíssimo mar. Não tinha mais nenhuma opção. Teria que atravessar esse oceano. Seja o que Deus quiser. Fiz força, a maior da minha vida. Gritei. A cabeça saiu totalmente. Depois mais força, e ombros saíram. Abri meus olhos e o mundo ainda estava ali. Eu já não sentia mais dor. Não senti dor no expulsivo, mesmo lacerando. As dores das contrações já eram exorbitantes e me prepararam para isso. Foi um alívio, foi bom. E o resto do corpo do João escorregou.
Foram oito horas de trabalho de parto, João nasceu as 3h12min (era horário de verão, então horário correto seria 2h12) do dia 01 de fevereiro de 2012, com 3,960kg. 
Estávamos na mão de Deus, eu e meu filho. João nasceu roxinho. Meio mole. Eu o peguei. O cheirei. O observei todo. Logo ele recebeu massagem da doula. Daniel chorava. Enquanto isso senti mais contração. Pensei: “nunca mais na vida vou parar de sentir contração?” Gritei: “o que é isso?” "Calma, é a placenta".
Confiávamos nas profissionais que nos atendiam nesse momento. Deus as iluminava. João ficava cada vez melhor. Daniel segurou João no colo. Emoção e amor. Pensei na questão dos óculos. Queria falar para Daniel tirar os óculos para João olhar no seu olho. Tinha lido sobre a importância do olho no olho. O primeiro olhar do bebê. Mas, foi assim com óculos mesmo, o olhar apaixonante.
Eu não estava acreditando em tudo o que eu tinha passado. Em tudo que pude vivenciar, suportar e gozar. Eu estava viva, meu filho também. E estávamos bem. Graças a Deus. Apenas a laceração, que veio naturalmente, que não foi grande. A médica deu ponto e pronto. Mas isso não era nada, nada comparado com toda a maravilha que eu havia vivenciado. Não tomei nenhuma droga, comi o que eu quis, fiquei nas posições que me eram adequadas, fui tratada com respeito e carinho, sem pressa. Foi um risco. Gestar uma criança é um risco. Estar vivo é arriscado. E Deus nos livra a cada dia. A cada dia me lembro de dar graças pela vida. 
Fui para a cama amamentá-lo. E a partir desse dia eu nunca mais seria a mesma.

Todo meu processo do parto, do meu primeiro parto, foi muito intenso. Um morrer e um reviver. Acredito muito no que falam sobre a percepção de dor no parto. Que muitas vezes a dor maior não é a física, mas sim a psicológica. Eu não estava sofrendo com práticas medicinais obsoletas no meu parto, pelo contrário, foi um lindo parto humanizado. Mas talvez estivesse num trabalho de parto de todos os meus projetos e planos, incertezas e frustrações da vida, alegrias. Muitas emoções que também não são claras. Era uma deixar morrer tudo isso e renascer coisas novas.
Dizem que o trabalho de parto que uma mulher passa é exatamente o trabalho de parto que ela precisa passar. Se é uma semana, meia hora, não importa, o que for é o necessário. Afinal é uma passagem. Uma passagem em que precisam ser transformadas e resinificadas muitas coisas da vida. Uma oportunidade única de crescimento espiritual e emocional. Uma entrega, que não é fácil. Acreditar em Deus e que Suas decisões são as melhores, mesmo que eu não compreenda foi crucial para mim na hora do parto.
 Não posso deixar de revelar que tive a grande felicidade de desfrutar desse momento e saber que não morreria “na natureza”. Esse pensamento sempre vem a minha cabeça. E se eu estivesse só numa ilha deserta? Ou mesmo com outras pessoas, mas sem recursos tecnológicos mais avançados?
Sobrevivi!
A energia que me brotou nesse parto está até hoje impressa no meu ser, no meu pensamento, e, em cada célula do meu corpo. Um dia inesquecível. Que mais para frente eu iria querer repetir sim, afinal, como disse uma amiga, parto vicia.
O lugar que esse parto aconteceu é abençoado. Na nossa casa. Hoje não moramos mais naquele apartamento, mas as lembranças ficam. E o cheiro também. Quem passar por aquelas paredes irá sentir (rs). Ah sim, esqueci de contar que na parede do nosso quarto ficaram marcas de açaí respingado. Em algum momento do parto, antes de entrar na partolândia, eu cismei que queria açaí. Daniel foi na busca. Claro, nesse dia tinha acabado o açaí no ponto mais próximo, a outra loja tinha fechado. Daniel atravessou a cidade em busca do tal açaí, quando chegou eu já estava chateada, engoli o açaí e acabei vomitando pelo quarto, também pelo trabalho de parto em andamento. Quando minha mãe e irmã chegaram na minha casa no dia seguinte para nos visitar ficaram espantadas com a cena. Acharam que era sangue pelas paredes. Eu logo as tranquilizei falando que era açaí.
Finalizo meu relato lembrando que, nesse dia eu estava ansiosa com dois assuntos: a prova e o parto. Eram momentos divisores de águas na minha vida. E, sim tiveram que coincidir no mesmo dia. A meu contragosto. Entretanto, como velho ditado popular diz: Deus escreve certo por linhas tortas.  Mas Deus sempre escreve tudo certo por linhas certas, a gente que vai entortando as coisas. Sou grata por tudo que Ele me proporcionou. Por esse momento decisivo que me fez refletir sobre minha escolhas e atitudes diante da vida. Me fortaleceu e me amou. Me preparando assim para uma etapa mais difícil ainda, o puerpério. Mas também gratificante. 
A longa jornada da maternidade havia apenas começado. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

RELATO DE PARTO: SARA, baby #3. Meu terceiro parto domiciliar planejado

Resolvi escrever os relatos dos meus partos. Vou começar pelo último...


Era a data (im)provável do parto. Quarenta semanas exatas. Na manhã do dia 29 de outubro de 2015, descemos a família toda para brincar em baixo do bloco. Encontramos coleguinhas das crianças e tudo mais. Conhecidos e amigos perguntavam quando Sara iria nascer. Eu dizia que já estava valendo. Dizia isso desde as trinta e sete semanas.
Eu sentia as contrações como nunca havia sentido: bem tranquilamente. Foi um processo tão, mas tão (não tenho nem palavras) talvez, tão “respirado”, que nem sei se aquilo era um trabalho de parto. Já fazia um tempo que eu sentia esse processo respirado, um mês mais ou menos.
Nessa manhã do dia 29 ficamos um bom tempo lá em baixo, quando... percebi que era melhor subir, rs. Enquanto eu atravessava o bloco (nosso bloco é colado a outro bloco e estávamos na ponta oposta à nossa portaria), sentia as contrações avançando e cada vez me imobilizando mais, mas não eram nem de longe as contrações surreais que senti nos meus partos anteriores. Sentia também meu corpo se abrindo. Se abria lindamente, respiradamente. Meu corpo passava por um processo intenso, mas não avassalador como em experiência anterior.
Nesse trajeto - super mega lento - em que eu parava e respirava a cada contração, as pessoas que passavam (vizinhos, porteiros e transeuntes), preocupadas me perguntavam: “Você está bem? ”; “Cadê seu marido?”; “Quer que eu ligue para o médico?”; “Quer que eu te leve para o hospital?”. Se admiravam quando eu apontava para meu marido: “Ele está ali brincando com as crianças”.
Me perguntavam mais de uma vez. Parece que paravam e sentiam a contração junto comigo, respiravam também. Me pergunto o que será que deveria estar passando na cabeça das pessoas. De qualquer forma nesse dia, nesse momento, eu não iria ficar me explicando para alguém. Explicando sobre nosso parto domiciliar planejado. Eu queria fluência, suavidade e amor transbordando. Precisava da união da nossa família, da proteção dos anjos, do olhar de Nossa Senhora e da graça de Deus. Ah, sim, mais uma coisa também: água morninha!
Enfim, consegui atravessar o bloco naquela odisseia sem fim de contrações paralisantes, porém não doloridas e aberturas corporais respiradas. Cheguei em casa, resolvi deitar, ligar para parteira. Não lembro os horários em que as coisas iam acontecendo, só sei que aconteciam... Só sei que foi assim... Depois que entrei no apartamento e relaxei, as contrações foram ficando mais espaçadas e menos intensas. Daí pensei que dê certo a bebê iria ficar mais uma ou duas semanas dentro do forninho, como fora com seus irmãos. Nesse tempo, as crianças foram para escola, a parteira e sua assistente chegaram depois e as coisas ficaram relativamente tranquilas.
Meu marido encheu de ar a piscina inflável própria para o parto. O meu processo não parou, continuava, mas bem suave. Sem partolândia. Parteira, assistente, doula e marido apostavam que o parto iria rolar sim, em algum momento... Mas quando? Bom eu apostei que iria ser na madrugada, afinal meus partos anteriores foram na madrugada. Era de tarde, depois de um bom tempo de convivência aqui em casa, parteira e assistente descem para conversar e me deixar um pouco a sós com meu marido. A doula também ficou. Começamos a ajeitar algumas coisinhas do bebê...
Tínhamos decido encher a piscina de água quente apenas quando o processo estivesse mais avançado. Eu queria que a neném nascesse na água, mais do que ficar durante o trabalho de parto na água. E a água deveria estar morninha. Então retardamos o enchimento da piscina. Foi quando estávamos relembrando uma amarração de fralda de pano que eu senti uma contração forte e dolorosa. Foi engraçado, pois eu estava falando e de repente meu tom de voz mudou. Lembro que Daniel e Fernanda doula sorriram. Eu me senti um outro ser, ou melhor senti que eles não eram mais da minha espécie (espécie mãe parindo agora, é um outro ser, kkk). Aí eu tive certeza: Tá vindo!
Iupi! Rápido, liga pra Ritta e pra Dawn subirem. Rápido amor enche a piscina de água quente! Estávamos no quarto vendo a questão da fralda, a piscina estava na sala. Que trajetória até lá! Odisseia também. Uhu! Cheguei! Me apoiei na mesa da sala e não conseguia mais sair. As contrações eram doloridas, e eu estava ali de pé as sentindo. Que maravilha. A piscina estava a alguns passos e eu não conseguia mais me mover. Fiquei um tempo ali e senti vontade de fazer xixi. Na hora eu cogitei ir ao banheiro, mas não conseguia me mexer. Falei que queria fazer xixi e logo trouxeram os panos de chão novinhos comprados para o parto. Pensei que era desperdício - olha só o pensamento bobo. Tinha uns cinquenta panos de chão novos lá em casa só para esse dia. Enfim depois de alguns segundos relutando, fiz xixi no pano de chão novo, em pé. Melhor fazer ali, que na piscina, pensei. E eu ia entrar naquela piscina e minha bebê nascer lá!!!
Perguntei em voz alta: “E se eu fizer xixi na piscina do parto na hora do parto?” E Ritta responde: “Não tem problema querida você pode fazer”. Sempre acolhedora em seus comentários, Ritta falava que eu podia fazer o que eu quisesse, e me perguntou o que eu queria fazer. Que pergunta forte. Mexia comigo, pois por um lado eu queria responder quero descansar, para tudo. Por outro lado, quero parir meu bebê, pegá-lo em meus braços. Mas se for pensar direito não são respostas antagônicas, mas complementares... Isso tudo eu pensei, não falei na hora.
Bom, não sei ao certo o que ela falou depois, mas sei que explicou que o que eu fizesse, o que saísse de mim, naquele momento não iria fazer mal para o bebê. Não iria ser sujeira. Me deu segurança e tranquilidade para eu poder expelir meus líquidos. Líquidos do parto. Só sei que foi assim. A bolsa estourou nesse momento, eu em pé mesmo, a alguns passos da piscina.
Logo que pude, entrei na piscina, com ajuda da parteira e meu marido.
NOSSA! Nunca a sensação da água quente no meu corpo foi tão boa. Eu pensava e falava alto: Toda mulher, toda grávida merece essa sensação. Foi tão bom que eu queria ficar ali e não sentir mais contração. E pior que foi isso que aconteceu, deu uma desacelerada no processo. Mas não minguou por completo, eu sentia ainda as contrações. Era intenso, mas não era alucinante como havia sido em partos passados.
            Bom, depois de um tempo respirando, trocando carinhos com meu marido (ele não entrou na piscina pois estava enchendo a piscina junto com a assistente) a parteira fala para mim: “Valéria, quando a contração vier, quando você quiser, sentir o momento, pode fazer força”. Fiquei perplexa, será? - eu estava retardando ao máximo fazer força, pois na trabalho de parto do meu primeiro filho fiz força num momento errado, bem no início do trabalho de parto (o motivo vou redigir no relato de parto do João). 
           Foi então esperei a contração vir. Fiz força e ela disse: “Segura seu bebê que a cabeça já saiu”.  Não acreditei. Eu estava na posição de quatro bases e não consegui me organizar para aparar o bebê (tinha conversado previamente com a parteira que esse era o meu desejo). Daniel veio por trás e na segunda ou terceira força que fiz a bebê nasceu por completo. Na água como havíamos planejado. Incrível, logo ele a passou para mim. A parteira orientou para ter cuidado pois o cordão umbilical era curto. Que felicidade. Ah sim, eram 18h20, a assistente da parteira lembrou de ver as horas.






            Ficamos ali namorando o bebê que acabara de nascer. Sara, nasceu linda, rosa. Com 3, 565kg. Logo, fui transferida, para o colchão improvisado ali ao lado. Sim, Daniel e parteira me retiraram da piscina no colo. Para ser mais exata, nos colocaram no colchão, eu e minha pequena que estava agarradinha comigo. Não que eu não pudesse me mover, mas que a parteira fazia questão de me tratar muito, muito bem, desde sempre. Tudo o que eu precisasse: água, comida, massagem, palavras, etc. estava ali, próximo e rápido. Eu não faria mais esforço algum aquele dia, apenas cuidar da minha bebê, amamentá-la.
E, nesse colchão dei mamá para Sara e a placenta nasceu. Passado o tempo, Daniel cortou o cordão umbilical as crianças chegaram da escola (a doula tinha ido buscar). João perguntou: “Já saiu?” Ele estava na expectativa de ver a irmã nascer, tínhamos nos preparando para isso, lido o lindo livro da Naoli e visto seu vídeo de parto. João e Cecília não estavam presentes no momento exato do nascimento mas chegaram a tempo de ver a placenta, já estava no pote de sorvete. A examinaram acharam interessante. Chegaram a tempo de ver a piscina cheia de água com um pouco de sangue. Chegaram a tempo de sentir o cheiro de ocitocina no ar. Chegaram a tempo de ver o primeiro mamá da irmãzinha.  


Foto Família Pós -Parto Domiciliar. As crianças já tinham tomado banho (querida doula cuidou disso).

Manhãzinha do dia seguinte do parto. Acima João segurando a irmãzinha. 
Abaixo Cecília segurando a irmãzinha, instruída por João.

E foi tudo certo, graças a Deus. A equipe e família jantavam macarronada feita pelo meu marido e eu amamentava. Também comi, claro. Já era noite, equipe do parto foi embora, eu fui para o quarto com a bebê e meu marido. As crianças já dormiam no quarto delas.  Fomos todos dormir. Dormir com mais um integrante da família ali. Tudo tranquilo. Obrigada Senhor! Era sim um parto de filme, como está na moda, como muitos eu assisti e que me auxiliaram no meu parto.  Dessa vez não filmamos, apostei no meu recolhimento, introspecção e vivência em família.
Quando me perguntam quanto tempo durou esse trabalho de parto não sei responder. Dependendo do ponto de vista, talvez um mês, talvez quinze minutos. Pois foi direto desse processo respirado para o expulsivo que nem sei dizer quanto minutos durou. Só sei que por um lado o expulsivo foi rápido, muito rápido, e, por outro, o processo de respiração e abertura do corpo e contrações foi muito lento, suave.
No dia seguinte a vovó já estava lá em casa paparicando mais um netinho.




Agradeço a Deus pela vida, a meu marido pelo apoio incondicional, toda equipe do parto, todas as mães que compartilharam suas experiências e que me auxiliaram a desejar esse parto. 

Para quem tiver interesse esse é o link para vídeo no youtube do parto de Naoli Vinaver:
https://www.youtube.com/watch?v=nOBhIC55kEA
E o livro de Naoli que li com as crianças (cheio de ilustrações belíssimas) se chama:
Nasce um bebê naturalmente


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Bebê de Casa





Meu bebê nasceu em casa deixando os dias mais bonitos e as noites ensolaradas (bis)

Lembro de tudo e não lembro nada, eu senti tudo e não sinto nada, dia que tanto o tempo correu que parou.

Parou no sul, dissipou meu norte, vento do leste bateu tão forte, que o oeste inteiro ouviu e abençoou.

Não acredito no que sucedeu, nova criaturinha nasceu, muito amor que Deus me deu, pedaço meu.

Simples mais simples não tem igual, meu bem-te-vi espanta o mal, meu beija-flor, minha linda flor, meu amor.

De Valéria Lehmann