Crianças, Cuidado!

Crianças, Cuidado!
Amor de mãe, amor de irmãos

sexta-feira, 17 de maio de 2013

NEM A MARY POPPINS



Durante algumas semanas antes e após o parto da Ceci precisei da ajuda de alguém para dar conta do João. Afinal, com um barrigão de nove meses, marido trabalhando o dia inteiro e filho mais velho (com um ano e um mês) correndo pra lá e pra cá, teria que arranjar algum jeito para me preparar e descansar para o parto (domiciliar) e pós-parto.

Optei por contratar uma babá a matricular João em período integral na escola. Nessas semanas, duas mulheres passaram pela nossa casa em momentos diferentes para realizar a função de babá, que, para mim, envolve questões bastante complexas.

Confesso que já tinha um pé atrás com ‘babás’. Primeiramente pelo fato de sempre ouvir minha mãe falar que nunca teve babá, que sempre cuidou de mim e da minha irmã sozinha, com ajuda de papai. Relatos de amigas contando dos maus tratos com seus bebês também contribuíram com as preocupações. Além disso, minha própria observação diária das atitudes e conversas de babás da vizinhança, e ainda das próprias babás que contratamos, fizeram que eu desenvolvesse uma percepção mais negativa que positiva de tal função.

Cansei de ver babás que não dão a atenção devida a criança por estarem ou penduradas no celular, ou conversando com as outras sobre assuntos particulares de suas vidas, ou mesmo paquerando o porteiro. Também não vejo nelas a empolgação necessária para lidar com crianças, disponibilidade para sentar na areia do parquinho e fazer castelinhos, nem de se envolverem com brincadeiras.

Para mim as babás deveriam se divertir com o que fazem, procurar propor brincadeiras e agregar outras crianças nas atividades, observar e agir com criatividade no momento adequado, enfim, gostar realmente de crianças. Até hoje só observei uma babá que brincava e dava atenção as duas crianças que cuidava, mesmo sem a presença dos pais (o que muitas vezes faz com que a babá haja diferente). Antes de conversar com ela, achava que era a mãe deles, pois ao contrário das demais babás, e assim como eu, tinha as qualidades citadas. Mesmo assim, com o passar do tempo vi que a atitude cheia de energia dessa babá foi caindo... Agora, já fica boa parte do tempo na ‘rodinha’ com outras babás.

Sim, encontrar uma babá razoável não é uma tarefa fácil, demora tempo até achar alguém. Eu já não tinha mais tempo... Ia parir.

A primeira babá que contratamos teve, de forma impressionante, muitos problemas de saúde (infecção nos dentes, na garganta, gripe, gripe, gripe), quando não era isso era o ônibus que quebrava, o marido que não deixava trabalhar, ou outro problema pessoal. Não dava mais. Não trabalhou nem um mês conosco. Quando a demitimos tivemos que pagar tudo: décimo terceiro, férias, aviso prévio (pois esquecemos de fazer o contrato de experiência). Uma fortuna...

Partimos para a experiência com uma nova babá. Dessa vez pagamos mais, bem mais, a fim de encontrar alguém mais bem preparado (sem esquecer do contrato de experiência). Tanto com a primeira quanto a segunda babá, vi que havia uma dificuldade ainda maior nessa relação babá-patroa pois eu não estava trabalhando nem iria trabalhar, iria estar por perto sempre. Eu queria passear junto, ver o banho... Mesmo com o barrigão. Precisava de alguém para me ajudar principalmente com o trabalho pesado: carregar João, colocá-lo nos brinquedos, trocar fralda, mas não para tirá-lo da minha presença. Acredito que as babás se incomodavam com isso.

A segunda babá que contratamos chegou até a dar explicitamente ordens contrárias a minha a João. Um exemplo disso foi quando Ceci já estava a alguns dias no mundo. Falei para João, que empurrava de mansinho a porta do quarto: “Vem cá ver sua irmãzinha”. Ele estava indo nos dar um beijo quando a babá apareceu na porta do quarto: “Vem cá João ver o livro”. Falei novamente para João entrar e ver a irmãzinha e a babá falou: “Tchau João, vou embora”. Então ele ficou hesitante em entrar no quarto, olhou pra trás e começou a chorar.

Esse é um exemplo dos muitos joguinhos afetivos que adultos fazem com crianças, e no caso, a nossa babá era especialista nisso. Quando a avisamos que tínhamos uma diarista, pronto, queria passar para essa ou mesmo para mim todo o serviço doméstico relativo as crianças, até lavar o copinho de água e tirar as cascas de banana da bolsa de sair do João que ela mesmo jogava. Eu chamei atenção sobre tais coisas, mas nada adiantou, e o clima só piorava.

Agora contratamos alguém para cuidar da casa de segunda a sábado. João está indo a escola em período integral duas vezes por semana. Nos outros dias eu fico com as crianças e quando preciso peço ajuda. Estou mais cansada fisicamente, porém mais tranquila mentalmente e mais feliz com relação a isso.

Acho que existe algo esquisito com a palavra ‘babá. Parece que é só falar a palavra que surge num imaginário comum (tendo em vista as pessoas que entrevistamos e contratamos) aquela figura da mulher que fica sentada com as crianças na frente da TV, que não tem a iniciativa de realizar nenhum tipo de trabalho doméstico passando a função para outros (no caso para mim ou para a diarista), ou o fazendo de mau grado e mal feito. Lembro que nas ligações e entrevistas que fiz,  algumas mulheres falavam: "É, eu olho criança sim". É, parece que é só olhar mesmo. Não é abaixar, se levantar, andar, correr, limpar...

Me pergunto o que seria essa função de babá? Cuidar de crianças... E o que é cuidar de crianças na perspectiva de babás e de mães? Fico um tanto que perplexa quando ouço babás falando que as crianças que cuidam preferem elas que as próprias mães. Comentam que quando aparecem na casa dos patrões, as crianças vão direto para seus colos e não querem ficar com os pais. Dizem que as mães ficam tristes, mas concordam com essa situação por julgarem ser o ‘melhor’ para seus filhos.

Apesar das experiências não muito felizes que tivemos, reconheço que o auxílio de uma ‘babá’ foi necessário por um período, mas por um período bem curto, não mais que um mês. Depois disso me atrapalhou muito mais que ajudou. Entendo que o cotidiano e estilo de vida de muitas mães sejam diferentes do meu e por isso, precisem de babá por mais tempo. Mas não é meu caso. Estou muito grata em poder estar com meus dois pequenos. Ver os ‘primeiros tudo’ deles: sorrisos, palavras, passos...

Perdão pelo desabafo, mas nem a Mary Poppins serviria para cuidar dos meus filhos. Eu sou a mãe, eu sou a babá, eu sou a Mary Poppins dos meus pequenos. Pode ser que eu seja exigente por demais, e que também minha experiência como professora (de dança e música para diferentes faixas etárias) contribua para minha decepção com atitudes pouco criativas e sedentária da maioria da babás. Além disso tenho super interesse em observar o desenvolvimento dos seres humanos, em especial dos meus filhos, adoro brincar, criar, fazer música, dançar, desenhar, comer, nadar, rir com eles.

Não nego que é bem trabalhoso estar com os dois. Ainda mais agora, com uma recém-nascida que mama o tempo todo e outro que anda, corre, sobe em tudo... e mama. Cuidar desses dois acho até mais difícil que cuidar de gêmeos justamente por estarem em momentos tão diferentes do desenvolvimento (meus filhos tem um ano e dois meses de diferença). Descer para passear com os dois exige planejamento, plano A, plano B, plano C. Outro dia sentei no parquinho e dei mamá para os dois que berravam, em alguns instantes tudo se acalmou... Só parecia ser um E.T. com o olhar de estranhamento que babás e casais me dirigiam.

7 comentários:

  1. Muito bom Valéria.. Estou numa situação muito parecida e chegando a conclusão que o melhor é a escola e uma doméstica pra me ajudarem com o pequenino e a bebê que chega jájá!

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  2. adorei a iniciativa! de escrever suas experiencias!! bjao

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  3. Obrigada Bárbara e Mari,
    Pois é, muita gente tá colocando integral.
    O João tá amando a escolinha.
    ela é simples e tem uma enorme área verde.

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  4. Valéria realmente não é nada fácil cuidar de dois em momentos diferentes no crescimento, haja energia!!!!!
    Estou adorando seus relatos, voce tem o dom da palavra!!!
    Beijo grande e força aí!!!!
    Jud Martins

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  5. Já passei por isso e sei bem como é... Tenho quatro filhos muito próximos um do outro (média de dois anos). Mas eu tinha uma babá que eu posso dizer ser a mãe preta dos meus filhos. Quando acertamos, e Deus nos envia anjos como a Lindete, é muito bom!

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  6. Clara Moreno: Adorei Valeria! Imagino que voce precisa se desdobrar a cada dia com os dois pequenos que estao em momentos diferentes da vida. No seu relato vi e concordo muito com a sua concepção de infância e da importancia que o adulto tem na formação dessa criança. Não sei, acho que podemos chamar de Alteridade. Mas, para ter essa percepção é preciso que se estude muito, ou ter nascido em uma familia com esses cuidados. O povo, que é quem se propoe a ser babá nao tem essas concepções e tratam de nossas crianças como se fossem seus filhos. E o que tem de mais legal do que ver Tv? Ainda mais à cabo. .
    Posso te dizer que na escola que trabalho, as crianças mais interessadas, mais articuladas, com sede de vida, de amor e as mais carinhosas são as que ficam mais tempo com seus pais (mae e pai, nao somente um lado pq se nao geram outras questoes..rs). Acredito que voce fez a melhor escolha, enquanto der, mergulhe nesses pequenos!! <3

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  7. Nossos estamentos sociais são muito heterogêneos, o que dificulta empatia nessa relação babá-mamãe. Muitas vezes a inveja fala mais alto que o profissionalismo, o que gera distorções nas atitudes de babás que ainda não venceram seus próprios recalques. É preciso cautela e paciência em demasia para as mamães, de modo que os tesouros mais valiosos não fiquem à mercê do acaso e da sorte.

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